Este Mundo Tenebroso I

Boa noite amigos leitores, tudo bom?
Quero começar com uma postagem de um livro. O que acham? Se puderem acompanhar aqui vai ser muito legal e poderemos partilhar nossas opiniões a cada capítulo.



Este Mundo Tenebroso lançado pela editora Vida, é a primeira parte de uma série de dois livros e conta uma história que irá te mostrar a realidade do mundo espiritual. Frank Peretti lança um olhar agudo e mordaz sobre a guerra espiritual e a necessidade de oração.

Com  seu estilo peculiar e cativante, o escritor prende a atenção dos leitores ao descortinar uma assombrosa realidade espiritual que muito têm esquecido. Um clássico no gênero de ficção que ao mesmo tempo envolve e edifica. Uma obra de tirar o fôlego.

E vamos ao Primeiro Capítulo.

A Bárbara Jean,
esposa e amiga,
que me amou, e esperou.
***
Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Efésios 6:12
***
1
Quando os dois vultos trajando roupas de trabalho surgiram na Rodovia 27, na periferia de Ashton, uma cidadezinha cuja vida revolvia em torno da sua faculdade, a noite enluarada de domingo ia chegando ao fim. Eram altos, no mínimo acima de dois metros, de compleição robusta, perfeitamente proporcionados. Um tinha cabelos escuros e possuía traços marcantes, o outro era loiro e poderoso. A pouco menos de um quilômetro de distância, olharam rumo à cidade, considerando a cacofonia de sons festivos vindos das lojas, das ruas e dos becos que ela abrigava. Puseram-se a caminhar. Era a época do Festival de Verão de Ashton, o exercício anual em frivolidade e caos da cidade, a sua forma de dizer obrigada, volte outra vez, boa sorte, foi bom tê-los aqui, aos cerca de oitocentos alunos da Faculdade Whitmore que estariam entrando nas tão esperadas férias de verão. A maioria faria as malas e iria para casa, mas todos definitivamente ficariam pelo menos o tempo necessário para aproveitar as festividades, a discoteca, o parque de diversões, os filmes baratos, e tudo o mais que desse para desfrutar, às claras ou às escuras, só por farra. Eram horas de loucuras, uma oportunidade de se embebedar, engravidar, apanhar, cair no conto do vigário e passar mal do estômago, tudo na mesma noite.
No centro da cidade, um proprietário com senso comunitário havia aberto um lote vazio e permitido que um grupo ambulante de migrantes empreendedores montassem seu parque com atrações, barracas e toaletes portáteis. A aparelhagem parecia melhor no escuro, uma escapadela em ferrugem feéricamente iluminada, movida a motores de trator de escapamento aberto que competiam com a oscilante música do parque guinchando ruidosamente de algum lugar no meio daquela barafunda. Mas nessa cálida noite de verão, a multidão que por ali perambulava comendo algodão doce estava a fim de se divertir, divertir, divertir.
Uma roda-gigante girava lentamente, hesitava a fim de receber passageiros, girava um pouco mais para o
desembarque, depois dava algumas voltas completas a fim de fazer valer o preço do bilhete; um carrossel
revolvia em um círculo espalhafatoso de luzes brilhantes, os cavalinhos descascados e caindo aos pedaços ainda saracoteavam ao som pré-gravado de órgão a vapor; os freqüentadores do parque atiravam bolas a cestas, moedas a cinzeiros, dardos a bolões de gás, e dinheiro fora ao longo da instável passagem montada às pressas, onde os vendilhões repetiam a mesma arenga, tentando convencer os transeuntes a tentarem a sorte.
Os dois visitantes, altos e silenciosos em meio a tudo aquilo, perguntavam-se como uma cidade de doze mil pessoas — incluindo os alunos da faculdade — podia produzir tão grande e pululante multidão. A população, geralmente calma, havia comparecido em massa, incrementada por gente de outras paragens à procura de diversão, até que as ruas, bares, lojas, becos e estacionamentos ficassem lotados nessa ocasião em que tudo era permitido e o ilegal era ignorado. A polícia tinha as mãos cheias, mas cada prostituta, baderneiro, vândalo, bêbado algemados significava apenas que mais de uma dúzia ainda estava solta e perambulando pelas ruas. O festival, chegando ao auge na noite final, era como uma furiosa tempestade que não podia ser detida; podia-se apenas esperar que ela amainasse, e haveria muito o que limpar depois.
Os dois visitantes foram passando lentamente pelo parque apinhado, ouvindo as conversas, observando a atividade. Queriam saber coisas a respeito da cidade, por isso demoraram-se observando aqui e ali, à direita e à esquerda, adiante e atrás. A aglomeração de transeuntes passava por eles como peças de vestuário a revolver-se na máquina de lavar, serpenteando de um lado a outro da rua, em ciclo imprevisível, sem fim. Os dois homens altos não tiravam os olhos da multidão. Estavam à procura de alguém.
— Olhe lá — disse o de cabelo escuro.
Ambos a viram. Era jovem, muito bonita, mas também muito inquieta, olhando de um lado para outro,
uma máquina fotográfica nas mãos e uma expressão orgulhosa no rosto.
Os dois atravessaram apressados a multidão e colocaram-se ao lado da moça, que não percebeu a sua
presença. — Sabe — disse o de cabelo escuro — você poderia tentar olhar lá adiante.
Com esse simples comentário, ele passou a mão nos ombros dela e a conduziu rumo a certa barraca na
passagem. Ela atravessou a grama e os papéis de bala, caminhando na direção da barraca onde alguns adolescentes desafiavam-se mutuamente a estourar balões de gás com dardos. Nada daquilo a interessava,
mas então... umas sombras movendo-se sorrateiras atrás da barraca prenderam a sua atenção. Ela segurou
a máquina em posição, deu mais alguns passos leves e cuidadosos, e a seguir levou a máquina rapidamente ao olho.
O clarão do flash iluminou as árvores atrás da barraca enquanto os dois homens se afastavam apressados para o seu próximo encontro. Moveram-se suavemente, sem hesitação, passando pela parte principal da cidade a passos rápidos. Seu destino estava a cerca de um quilômetro e meio do centro da cidade, na rua Poplar, e subindo uns oitocentos metros até o topo da rua Morgan Hill. Não demorou quase nada para que se detivessem em frente à igrejinha branca no meio do minúsculo estacionamento, com seu gramado bem cuidado e o bonito quadro onde estavam anunciados o horário da escola dominical e do culto. Encimando o pequeno quadro de avisos encontrava-se o nome “Igreja da Comunidade de Ashton”, e, em letras pretas pintadas às pressas sobre qualquer que fosse o nome anteriormente ali colocado, dizia: “Henry L. Busche, Pastor”.
Eles olharam para trás. Desta alta colina podia-se divisar toda a cidade e vê-la estender-se até cada um  dos seus limites. A oeste, brilhava o parque cor-decaramelo; a leste, erguia-se o imponente e conservador  campus da Faculdade Whitmore; ao longo da Rodovia 27, a principal rua da cidade, estavam os prédios
comerciais, as pequenas representantes locais de famosas cadeias de lojas, alguns postos de gasolina batalhando por conquistar fregueses com ofertas especiais, uma loja de ferragens, o jornal da cidade,
diversas lojas pequenas de comerciantes locais. Dessa posição, a cidadezinha parecia tão tipicamente
americana — pequena, inocente e inofensiva, uma gravura.
Mas os dois visitantes não se valiam apenas dos olhos para perceber as coisas. Mesmo daquela posição
vantajosa, o verdadeiro substrato de Ashton pesava muito em seus espíritos e mentes. Podiam senti-lo;
inquieto, forte, crescente, bem planejado e cheio de propósito... um tipo de maldade muito singular.
Eles não eram avessos a questionar, estudar, investigar. Na maioria das vezes, essas atividades faziam parte do seu trabalho. Assim sendo, era natural que hesitassem nessa tarefa, pausando com o intuito de
indagar: Por que aqui? Mas apenas por um instante. Podia ser uma sensibilidade aguçada, um instinto, uma impressão muito leve só a eles discernível, mas era o suficiente para fazer com que sumissem prontamente no canto da igreja, fundindo-se contra a parede chanfrada, quase invisíveis ali no escuro. Nada diziam, não se moviam, mas observavam com olhar penetrante algo que se aproximava.
A cena noturna da rua quieta era um mosaico em nítidos traços azuis do luar e sombras imprecisas. Mas
uma das sombras não balouçava ao vento como as das árvores, nem tampouco era estática, como as dos
prédios. Rastejava, tremia, movia-se em direção à igreja, enquanto qualquer luz que atravessava parecia afundar-se em seu negror, como se ela fosse uma brecha aberta no espaço. Mas essa sombra tinha uma forma, uma forma animada que fazia lembrar alguma criatura, e quando se aproximou da igreja, ouviram-se sons: o arranhar de garras no chão, o leve farfalhar de asas membranosas rufladas pela brisa, adejando logo acima dos ombros da criatura.
Ela tinha braços e pernas, mas ao cruzar a rua e subir os degraus da escadaria da frente da igreja, parecia mover-se sem a ajuda deles. Seus olhos malévolos e esbugalhados com seu próprio brilho amarelado refletiam a pura luz azul da lua cheia. A cabeça retorcida saía de ombros encurvados, e tufos de hálito rubro e rançoso borbulhavam em penosos chiados através de fileiras de dentes afiados e pontiagudos. Ou ela ria ou tossia — os chiados que lhe escapuliam do fundo da garganta podiam ser qualquer das duas coisas. Da posição rastejante em que se encontrava, ergueu-se sobre as pernas e correu os olhos pela quieta vizinhança, as bochechas pretas e rígidas repuxando-se em horrendo riso, a própria máscara da morte. Moveu-se em direção à porta da frente. A mão escura passou através da porta como um espeto passa por um líquido; o corpo inclinou-se para diante e penetrou na porta, mas só até a metade.
De súbito, como se colidisse com uma parede em alta velocidade, a criatura foi atirada para trás, caindo em furiosa queda escada abaixo, o rubro e brilhante hálito desenhando uma trilha encaracolada no ar. Com um sinistro berro de fúria e indignação, ela se ergueu da calçada onde se esparramara e fixou os olhos na estranha porta que lhe barrara a passagem.
Então, as membranas das suas costas começaram a inflar, apossando-se de grandes quantidades de ar e,
com grande alarido, ela voou de cabeça rumo à porta, rumo ao saguão — e para dentro de uma nuvem de
ardente luz branca. A criatura gritou e cobriu os olhos, sentindo-se, a seguir, apanhada no enorme e poderoso aperto de uma mão. Num instante, foi arremessada no espaço como um boneco de pano, novamente do lado de fora, expulsa à força.
As asas zumbiram num borrão enquanto ela se inclinava numa fechada curva aérea e se lançava outra vez contra a porta, fumaça vermelha escapando em tufos e riscos de suas narinas, as garras à mostra e prontas para atacar, o espectral retinir de um berro a lhe sair da garganta. Como uma flecha atravessa o alvo, como uma bala passa por uma tábua, ela se arremeteu porta adentro — E no mesmo instante sentiu suas entranhas se arrebentarem.
Houve uma explosão de sufocante vapor, um último berro, e o agitar de braços e pernas que murchavam. Então nada mais houve a não ser o mau cheiro de enxofre que se dissipava e os dois estranhos, subitamente dentro da igreja.
O homem loiro embainhou uma espada brilhante à medida que a luz branca que o circundava ia desaparecendo.
— Um espírito de perturbação? — perguntou ele.
— Ou dúvida... ou temor. Quem vai saber?
— E esse era um dos menores?
— Ainda não vi nenhum menor.
— Realmente, não. E quantos você diria que existem?
— Muitos, muitos mais do que nós, e por toda a parte. Nunca ociosos.
— É, já deu para ver.
— Mas o que estão fazendo por aqui? Jamais vimos tamanha concentração antes, não aqui.
— Oh, a razão não ficará oculta por muito tempo—. Seu olhar passou pelas portas do saguão em
direção à nave do templo. — Vamos ver esse homem de Deus.
Eles se afastaram da porta e caminharam através do pequeno vestíbulo. O quadro de avisos na parede trazia pedidos de alimentos para uma família que passava necessidade, ofertas de pequenos serviços para
adolescentes, e pedido de orações em favor de um missionário enfermo. Um grande cartaz anunciava uma assembléia da congregação para a sexta-feira seguinte. Na outra parede, o relatório da oferta semanal indicava que, com relação à semana anterior tinha havido uma queda nas contribuições; o mesmo sucedera ao comparecimento, de sessenta e uma pessoas para quarenta e duas.
Pela curta e estreita passagem foram eles, caminhando entre as fileiras alinhadas de pranchas escurecidas e de bancos de ripas, em direção à frente da nave onde um pequeno facho de luz incidia sobre a rústica cruz no topo do batistério. No centro da plataforma recoberta por gasto tapete encontrava-se a pequena mesa sagrada, o púlpito, sobre o qual repousava uma Bíblia aberta. Era um mobiliário humilde, funcional mas nada elaborado, revelando humildade da parte da congregação, ou pouco caso. Foi nesse momento que o quadro adquiriu o primeiro som: um soluçar mansinho, abafado, vindo da ponta do banco direito. Ali, ajoelhado em ardente prece, a cabeça descansando sobre o duro encosto do banco de madeira, as mãos cerradas com fervor, encontrava-se um jovem, muito jovem, pensou a princípio o loiro, jovem e vulnerável. Seu semblante, agora o retrato vivo da dor, sofrimento e amor, deixava transparecer tudo.
Seus lábios moviam-se em silêncio, à medida que nomes, petições e louvor jorravam com paixão e lá-grimas.
Os dois não puderam evitar ficar ali por um instante em pé, observando, estudando, ponderando.
— O pequeno guerreiro — disse o de cabelo escuro.
O loiro formou as mesmas palavras em silêncio, olhando para o homem contrito que orava.
— Sim — observou — é este. Mesmo agora, ele está a interceder, colocando-se diante do Senhor em favor do povo, da cidade...
— Ele vem aqui quase todas as noites. Ante esse comentário, o grandalhão sorriu.
— Ele não é tão insignificante assim.
— Mas é apenas um. E está sozinho.
— Não.
O homenzarrão sacudiu a cabeça: — Existem outros. Sempre existem outros. Apenas têm de ser encontrados. Por enquanto, essa oração única e vigilante é o começo.
— Ele vai ser ferido, você sabe disso.
— E também o jornalista. E nós também.
— Mas venceremos?
Os olhos do grandalhão pareceram chamejar com um fogo reativado.
— Lutaremos.
— Lutaremos — concordou o amigo.
Eles se postaram por sobre o guerreiro ajoelhado, dos dois lados; e naquele momento, pouco a pouco,
como o desabrochar de uma flor, alva luz começou a inundar o recinto. Ela iluminou a cruz na parede traseira, lentamente fez sobressair as cores e os veios em cada prancha de cada banco, e elevou-se em  intensidade até que o templo anteriormente sem graça e humilde brilhou com uma beleza sobrenatural. As
paredes chispavam, os tapetes gastos cintilavam, e o pequenino púlpito ergueu-se alto e rijo como uma sentinela de costas para o sol. Agora os dois homens estavam radiantemente alvos, a roupa que trajavam antes transfiguradas em vestes que pareciam arder de intensidade. Seus rostos estavam bronzeados e brilhantes, os olhos coruscavam como o fogo, e cada um deles trazia um faiscante cinto dourado do qual pendia uma espada reluzente. Colocaram as mãos sobre os ombros do rapaz e então, como o abrir de um gracioso dossel, sedosas, tremeluzentes, diáfanas membranas começaram a se desenrolar de suas costas e ombros e a erguer-se para se encontrar e sobrepor acima de suas cabeças, ondulando suavemente num vento espiritual. Juntos, ministraram paz ao seu jovem tutelado, e as muitas lágrimas deste principiaram a arrefecer.
O Clarim de Ashton era um jornal popular, típico de cidade do interior; pequeno e original, talvez às vezes um tantinho desorganizado, despretensioso. Era, em outras palavras, a expressão impressa de Ashton. Seus
escritórios ocupavam pouco espaço num prédio comercial da rua principal no centro da cidade, uma
construção simples de um só andar com grande vitrine e uma porta pesada, que trazia marcas de pés e uma
fenda para a correspondência. O jornal saía duas vezes por semana, às terças e às sextas, e não dava muito
lucro. Pela aparência do escritório e das instalações, podia-se ver que era uma operação de minguado orçamento.
Na parte de frente do prédio, achavam-se o escritório e a área de notícias. Consistiam de três escrivaninhas, duas máquinas de escrever, dois cestos de lixo, dois telefones, uma cafeteira elétrica sem o fio, e o que parecia ser tudo o que podia existir no mundo em matéria de notas, papéis, papel timbrado e bugigangas
de escritório. Um velho e gasto balcão, trazido de uma estação de estrada de ferro desmantelada, formava a
divisória entre o escritório em si e a área de recepção. E, como era de esperar, havia um sininho acima da porta que tinia todas as vezes que alguém entrava.
Nos fundos desse labirinto de atividade em pequena escala achava-se um traço de luxo um tanto grandioso demais para o lugar: uma divisória de vidro que fechava o escritório do redator. Na realidade, era uma nova adição. O novo redator-proprietário era um ex-repórter de cidade grande e ter um escritório de redator fechado com vidro havia sido um dos sonhos de sua vida.
Esse novo sujeito era Marshall Hogan, um tipo robusto e enérgico, de grande porte, a quem a sua
equipe — o compositor, a secretária-repórter-moça-dos anúncios, o colador de artigos, e a repórter colunista — carinhosamente se referia como “Átila, o Hogan”. Ele havia comprado o jornal alguns meses antes, e o choque entre a sofisticação de cidade grande dele e a calma interiorana da equipe ainda provocava confrontações de tempos em tempos. Marshall queria um jornal de qualidade, que saísse com eficiência e suavidade e dentro dos prazos, com um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. Mas a transição do New York Times para o Clarim de Ashton era como pular de um trem em disparada ao encontro de uma parede de gelatina. As coisas simplesmente não se cristalizavam com tanta rapidez naquele pequenino escritório, e o alto nível de eficiência a que Marshall estava acostumado tinha de dar lugar a peculiaridades do Clarim de Ashton, como guardar o pó de café usado para o depósito de adubo da secretária, e alguém finalmente entregar a tão esperada história de interesse humano, mas toda coberta de titica de papagaio.
Os padrões de tráfego da manhã de segunda-feira eram febris, não dava tempo de ninguém curtir uma
ressaca do fim-de-semana. A edição de terça-feira estava sendo tirada às pressas, e toda a equipe estava sentindo as dores de parto, correndo de cá para lá, das escrivaninhas na parte da frente à sala de colagem na parte de trás, apertando-se para passar quando se encontravam no estreito corredor, carregando rascunhos de artigos e anúncios a serem tipografados, provas já prontas, e diversos formatos e tamanhos de meios-tons das fotografias que iriam ornar as novas páginas. Nos fundos, entre luzes brilhantes, mesas
atravancadas com trabalhos, e corpos em rápido movimento, Marshall e Tom, o colador, achavam-se
inclinados sobre um grande cavalete em forma de banco, montando o Clarim a partir de recortes e pedaços
esparramados por todos os lados. Este vai aqui, este não cabe — então temos de encaixar em outro lugar, este é muito grande, o que usaremos para preencher este?
Marshall estava ficando irritado. Toda segunda e quinta ele ficava irritado.
— Edie! — berrou ele, e a secretária respondeu: — Vou indo — e ele lhe disse pela milésima vez: — As galésvão nas bandejas em cima da mesa, não fora delas na mesa, não no chão, não no...
— Eu não pus nenhuma galé no chão! — protestou Edie enquanto saía às pressas da sala de colagem com outras galés nas mãos. Era uma mulherzinha rija de quarenta anos com a personalidade perfeita para opor-se à brusquidão de Marshall. Era ainda ela quem sabia encontrar as coisas no escritório melhor do que qualquer outra pessoa, especialmente o novo chefe. — Eu as coloquei nas suas lindas bandejinhas, onde você quer que fiquem.
— Então, como essas vieram parar aqui no chão?
— Vento, Marshall, e não me faça dizer-lhe de onde ele vem!
— Muito bem, Marshall — disse Tom — isso conclui as páginas três, quatro, seis e sete... que me diz das páginas um e dois? O que vamos fazer com todos esses espaços vazios?
— Vamos colocar a cobertura que Bernie fez do Festival, com histórias bem redigidas, fotos dramáticas
de interesse humano, o negócio todo, assim que ela botar o traseiro aqui dentro e nos der o que arrumou! Edie!
— O que é?
— Bernie está mais de uma hora atrasada, barbaridade! Dá para chamá-la de novo?
— Acabei de ligar. Ninguém atende.
— Droga.
George, o pequeno tipógrafo aposentado que ainda trabalhava por gostar do que fazia, fez a cadeira girar de costas para a tipografia e ofereceu:
— Que tal o Churrasco da Liga das Senhoras? Estou acabando de montar esse artigo, e a foto da Sra.
Marmaselle é suficientemente picante para provocar uma ação legal.
— É — gemeu Marshall — bem na primeira página. É disso que mais preciso, uma boa impressão.
— E então, o que vamos fazer? — perguntou Edie.
— Alguém daqui foi ao Festival?
— Eu fui pescar — disse George. — Esse festival é quente demais para mim.
— Minha mulher não me deixou ir — disse Tom,
— Eu vi um pouquinho dele — disse Edie.
— Comece a escrever — disse Marshall. — O maior acontecimento do ano, e temos de publicar alguma coisa a respeito.
O telefone tocou.
— Salva no último instante? — chilreou Edie enquanto apanhava a extensão que ficava na sala dos fundos. — Bom dia, aqui é o Clarim —. De súbito, ela se animou. — Ei, Berenice! Onde está você?
— Onde está ela? — quis saber Marshall ao mesmo tempo. Edie foi ouvindo e seu rosto foi ficando
horrorizado. — Sim... bem, calma... claro... não se preocupe, nós a tiraremos daí. Marshall acudiu impaciente:
— Bem, onde está ela afinal de contas?
Edie lançou-lhe uma olhada cheia de censura e respondeu:
— Na cadeia!

4 comentários:

ONG ALERTA disse...

Interessante, beijo Lisette.

PROFESSORA LOURDES DUARTE disse...

Olá Cristiane! encontrei você lá no blog do Thiago , obrigada pelas felicitações; vim conhecer teu blog. Adorei! lindo e com postagens maravilhosas. Já estou ficando, convido você a conecer o meu, se gostar, participe. Abraços, uma linda noite e um amanhecer abençoado.

Llyz! disse...

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OI CRIS...BOM DIA!
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Já estou aqui visitando o seu novo cantinho... amei sua idéia...muito bacana...parabéns pela iniciativa.
Agradeço pela visita..é sempre bem-vinda!!

(¨`#.#´¨) *
.....(¨`#.#´¨)
.... ×`#.;.#´x (¨`#.#´¨) " A amizade
....(¨`#.#´¨). x`#.¸.#´x surge...
... x`#.¸.#´x Quando aprendemos
¸.#´ a admirar as qualidades
( `#.¸ de algumas pessoas...
`#.¸ ) Que com sua simples
¸.# presença...
(.#´
`*. Conseguem fazer-nos
*.*´¨)
¸.#´¸.#*´¨) ¸.#*¨)muito felizes..."
(¸.#´ (¸.#` *
#¨`*# (¨`·.·´¨)... .#*´
  ¨`*# .`·.¸(¨`·.·´¨)... .•*´
  ¨`*#...× `·.¸.·´ # #..#.•*´
(¸.o` ¸.o´¸.o*´¨ ¸.o*¨ ¸.o´ ¸.o`¸.)
DESEJO-LHE UMA ÓTIMA SEMANA!!!
FIQUE COM DEUS ....
LLYZ!
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Anônimo disse...

Oi,Cris! Estou seguindo vc aqui tb.Que blog excelente!

Vou colocar em favoritos para receber as atualizações. E essa história quero acompanhar!

Fico imprtessionada como vc posta textos longos e fica tão certinho! Como faz isso?

Alinhamento de espaços?

Eu me enrolo com textos pequenos para alinhar.


Se puder responder,trocar figurinhas,será ótimo!


Beijos e muito obrigada pelas visitas!

Ótima terça

Donetzka